Por Monja Coen (em: http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textos-da-monja-coen/131-zazen-)
Zazen literalmente significa Sentar Zen. Zen é uma palavra que vem do Sânscrito Dhyana ou Jhana e significa um estado meditativo profundo. Geralmente não chamamos o Zazen de meditação, pois o verbo meditar é transitivo direto, ou seja, requer um objeto. Meditar sobre a vida, meditar algo. Enquanto que o Zen é intransitivo. Não há objeto de meditação. Até o sujeito desaparece. E quando isso acontece o Caminho se manifesta em sua plenitude.
Procure um local tranquilo, nem muito claro nem muito escuro, não muito quente nem muito frio.
Há várias maneiras de sentar-se: posição das bermudas, meia lótus, lótus completa, banquinho, cadeira. Em qualquer uma delas é importante que a coluna vertebral seja mantida erecta. O queixo um pouco para baixo, de forma que a região cervical fica reta. Verifique se seu corpo está centrado, movendo da esquerda para a direita, como um pêndulo – de movimentos largos a movimentos menores e pare exatamente em seu próprio centro de equilíbrio.
Perceba se as orelhas ficam em linha com os ombros e o nariz em linha com o umbigo. Esvazie os pulmões, soltando todo o ar profundamente pela boca, umas três vezes. Relaxe qualquer parte do corpo onde sinta tensão. Em seguida coloque as mãos no mudra cósmico (mão direita embaixo, com a palma voltada para cima e a costa dos dedos da mão esquerda repousando na palma dos dedos da direita,mantendo a mão esquerda com a palma para cima. Encoste levemente os dois polegares, como se houvesse uma finíssima folha de seda entre eles). Perceba que suas mãos estarão formando uma elipse, assim como os planetas em torno do Sol – o comos em suas mãos.
Em seguida coloque a ponta da língua no palato superior, tocando de leve atrás dos dentes frontais. Isto cria um canal de comunicação de energia ao mesmo tempo que evita muita salivação.
Mantenha os olhos entreabertos, pousados cerca de um metro e meio de distância num ângulo de 45 graus.
Assim, sem pensar e sem não-pensar, sente-se calmamente por alguns minutos. Alguns ficam em zazen por 40 minutos, outros por 30 ou mesmo 20 minutos. De qualquer maneira adapte à sua realidade. Para quem nunca praticou nenhuma forma de meditação mesmo cinco minutos pode ser um bom tempo. Não tenha presssa em querer sentar por longos períodos.
Tendo assim assentado corpo e mente perceba sua respiração. Sinta se está sendo abdominal (ao inalar o abdomem se expande ao exalar se contrai) ou toráxica (a caixa toráxica se expande e se contrái). Perceba seus batimentos cardíacos. Ouça todos os sons, próximos e distantes. Sinta as fragrâncias da sala, do local (pode ser ao ar livre). Perceba o ar, sua textura, sua temperatura. A luz e a sombra que se formam onde seus olhos estão pousados são também percebidas. Verifique sua postura, a posição das mãos, da coluna, da língua e oxigene áreas de tensão. Perceba seus pensamentos. Como se formam, como desaarecem. Veja se pensa em formas, palavras, música, cores, imagens. Qualquer emoção que surja deve ser notada. Assim como seu término. O mesmo para memórias. Entretanto não fique pensando apenas, nem apenas percebendo, pois isto ainda está no plano da dualidade. Torne-se um com o uno sendo a respiração, a postura correta e a vida do universo em constante fluir.
Um momento de zazen é um momento de Buda.
Entre tarefas, em momentos de stress no trabalho, nos estudos, entre amigos e desafetos, em casa, no trânsito, lembre-se apenas de endireitar a coluna e respirar conscientemente. Perceba suas emoções e batimentos cardíacos. Relaxe, sorria. Tudo é passageiro. Aprenda a estar presente no instante e a agir da maneira correta a transformar o que náo for de seu agrado. Lembre-se: apenas reagir não transforma.
Assim, use o Zazen para o seu bem e de todos os seres. Pois afinal, se se entregar ao Zazen de corpo e mente verificará que é o Zazen que faz zazen… Zazen zazen zazen.
Zazen como religião
Por Uchyiama Roshi (em “Opening the hand of thought. Foundations of Zen Buddhist Practice”. Tradução Mui Sato).
Por detrás do zazen há a religião do Budismo, e por trás dela, nossas próprias vidas. Consequentemente, o verdadeiro ou genuíno zazen encontrado nas escrituras budistas nunca foi pensado como um meio de disciplinar a mente ou se se tornar fisicamente mais saudável. Nossas ideias sobre uma mente a ser treinada ou um corpo a ser cultivado são expressões de uma visão da existência, que pressupõe que há coisas que podem ser acumuladas. O desejo de treinar e disciplinar nossas mentes e corpos não é nada mais do que nosso próprio desejo egoísta. Para o zazen funcionar como uma religião, a principal preocupação é abrir mão de modo de pensar egocentrado que se agarra ao corpo e a mente.
Zazen pode ou não ser chamado de religião, dependendo de como a palavra é definida. Na maioria dos casos, a palavra “religião” é usada para definir uma seita ou credo ou doutrina; entretanto, o zazen não é de nenhum modo uma doutrina ou credo, nem deve ser. Por muito tempo, a religião tem se preocupado com as relações das pessoas com uma autoridade acima delas. As pessoas sao levadas pelo discurso sugestivo desta autoridade e se entregam a uma completa submissao a esta autoridade religiosa. Entretanto, o zen também não é uma religião neste sentido.
O Zen Budismo não reconhece nenhuma autoridade fora do verdadeiro eu (self). Esta é a forma tradicional transmitida desde Xaquiamuni, que disse a seus discípulos “Refugie-se no Eu (self), refugie-se no Darma, refugie-se na Sanga”. Um pouco antes da morte de Buda, seu assistente Ananda quis reunir seus muitos discípulos, mas ele não permitiu. Ele disse, “as pessoas não me pertencem”. Ele simplesmente viveu sua própria vida, se recusando a se tornar objeto de adoração de seus discípulos e seguidores. Esta era sua atitude básica diante da vida.
O Zen Budismo herdou a atitude básica diante da vida de Xaquiamuni, a qual é apenas viver a vida do Eu universal. Nós apenas atualizamos dentro do Eu a mais aprimorada atitude diante da vida. Se o significado de religião for de ensinamento sobre a mais aprimorada atitude diante da vida, então o Budismo é certamente pura religião, uma vez que viver a vida do Eu não implica a autointoxicação de algum eu egocêntrico. Pelo contrário, esta é a atitude de descobrir a vida no interior do Eu que está conectada com todas as coisas. Isso significa ter como objetivo manifestar a vida de todo e cada encontro e ver todos estes encontros como nossa própria vida. Esta atitude de vida é chamada no Budismo de compaixão. Uma pessoa incapaz de encontrar compaixão pelos outros não pode ser chamada uma pessoa de zazen que despertou para a realidade da vida de todo o Eu.
(…) No Budismo como religião, zazen – no qual deixamos ir todos estes pensamentos e sentimentos humanos – é a alicerce de nossas vidas. É o zazen que protege, guia, e dá forças para nossas atividades diárias bem como para nossa vida como um todo e por sua vez para a sociedade na qual vivemos (…).
(…) Viver pelo zazen como religião é encontrado em nosso funcionamento no dia a dia como uma pessoa, um papel que em si mesmo a união personificada deste momento com a eternidade. Viver cada dia entregando-se ao zazen, sendo protegido e guiado pelo zazen, significa viver tendo uma direção – qual seja, viver sem ser empurrado de um lado para o outro pelos pensamentos e emoções furiosos dentro de nós. Isso significa viver visando decretar a unidade do presente e do eterno.
Assumindo como realidade aquilo que precede a divisão, não iremos evocar objetos de desejo, oponentes, competidores e etc. Na medida em que estejamos caminhando nessa direção não iremos atuar sob os fardos da ganancia, impaciência e inveja; não andaremos por aí trapaceando, enganando, ferindo e matando uns aos outros. Ao invés disso, como o verdadeiro EU que é apenas o verdadeiro Eu, possuímos absoluta paz dentro de nós. Ao mesmo tempo, uma vez que visamos manifestar o vigoroso Eu que está aqui e agora, e é simultaneamente um com a eternidade, temos que fazer um esforço incessante.
Nossa vida como uma pessoa reside precisamente onde vivemos em paz enquanto estamos progredindo. Dogen Zenji se refere a isso como a identidade da prática e iluminação. Esta é sem dúvida a estrutura da atualização da vida.
SAIBA MAIS:
REGRAS UNIVERSAIS DE ZAZEN (Fukanzazengi. Por Mestre Dogen Zenji)
A QUE ESTAR ATENTO EM ZAZEN (Zazen Yojinki. Por Mestre Keizan Jokin Zenji)

GUIA DE MEDITAÇÃO (Por Monja Coen)
VÍDEO – Zazen, a meditação Zen- Budista:
VÍDEO – Monja Coen explica o conceito de zazen:
VOCÊ SABIA QUE PODE FAZER ZAZEN EM UMA CADEIRA?
(material de divulgação Soto Zen)


