Textos e Sutras, Zazen

ZAZEN 31 – O patrão de tudo…

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“(…) dizemos para praticar o zazen sem idéia de ganho, sem nenhum propósito. Deixem as coisas funcionarem do jeito que funcionam, apoiando tudo como se fossem suas próprias coisas. A prática real tem orientação ou direção, mas não há objetivo ou idéia de ganho. Desse modo, pode-se incluir tudo o que vier. Seja bom ou mau, não importa. Se algo ruim acontecer: “tudo bem, faz parte de mim”. E se alguma coisa boa acontecer: “tudo bem”. Por não termos nenhum propósito ou meta especial em nossa prática, não importa o que vai acontecer. 

Já que engloba tudo, podemos chamá-la de mente grandiosa. Seja o que for, está dentro de nós, e nós a possuímos, portanto, nós a chamamos de mente grandiosa (…). Ainda que eu fale a respeito de alguma coisa, não há propósito. Estou falando para mim mesmo porque você é parte de mim; portanto, não há propósito em minha conversa. Algo está acontecendo, é tudo. Acontece por causa da alegria real de compartilhar sua prática com tudo”. 

Parte do capitulo do livro Nem Sempre é assim, de S. Suzuki, lido no zazen de 29/09…

Textos e Sutras, Zazen

ZAZEN 30 – Onde quer que eu vá, encontro a mim mesmo…

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“A maioria de nós quer saber o que é o eu. Esse é um problema sério. Tento entender por que vocês têm esse problema. Embora vocês tentem entender quem vocês são, isso me parece uma tarefa infinita, e vocês jamais irão ver seu eu. Vocês dizem que é difícil ficar sentados sem pensar, mas é muito mais difícil tentar pensar sobre seu eu. Chegar a uma conclusão é quase impossível, e se continuarem tentando, acabarão loucos, e não saberão o que fazer com seu eu (…)

(…) Quando praticam o zazen na tentativa de melhorarem a si mesmos, talvez vocês queiram se conhecer por meio de uma abordagem mais psicológica. A psicologia vai lhes revelar alguns aspectos de si mesmos, mas não irá lhes dizer exatamente quem vocês são. Trata-se apenas de uma das várias interpretações de sua mente. Se vocês forem a um psicólogo ou psiquiatra, terão informações sem fim sobre si mesmos. Enquanto estiverem fazendo uma terapia, podem sentir algum alívio. Podem se sentir livres do fardo que carregam, mas em zen nós nos entendemos de um modo completamente diferente (…)

(…) Tozan, o fundador da Escola Chinesa de Soto Zen, rejeita os esforços de vocês de se apegarem a informações de si mesmos e aconselha que vocês caminhem sozinhos, usando as próprias pernas. O que quer que as pessoas digam, vocês devem seguir seu próprio caminho, e ao mesmo tempo devem praticar com as outras pessoas. Essa é outra questão. Significa que se encontram é praticar com pessoas (…)

(…) Quando esvazia sua mente, quando desiste de tudo e somente pratica o zazen com a mente aberta, o que quer que você veja, você encontra a si mesmo. Aquele é você, além dela, dele ou de mim. Enquanto estiver apegado à idéia do eu, tentando melhorar sua prática ou descobrir algo, tentando criar um eu melhor e mais refinado, sua prática se desencaminhará. Você não tem tempo de alcançar sua meta, portanto, no fim, sentirá cansaço e dirá: “O zen não é bom. Pratiquei o zen durante dez anos mas não ganhei nada!”. Porém, se você aparecer aqui, sentar-se com alunos sinceros, se ver entre eles e continuar desse modo, essa é nossa prática. Você é capaz de ter esse tipo de experiência em qualquer lugar em que estiver. Como dizia Tozan, “Onde quer que eu vá, encontro a mim mesmo”. Se ele olhar a água, será como ver a si mesmo. Olhar a água é o bastante para ele, ainda que não possa se ver na água (…). 

Capítulo “Onde quer que eu vá, encontro a mim mesmo”, do livro Nem Sempre é assim, de S. Suzuki, lido no zazen de 22/09/13.

Textos e Sutras, Zazen

ZAZEN 28 – Experiência direta da realidade

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“O mestre zen Dogen dizia: “As montanhas e os rios, a terra e o céu; tudo nos estimula a alcançar a iluminação”. Do mesmo modo, o objetivo de minha palestra é incentivá-los a alcançar a iluminação, a ter a experiência real do budismo. Ainda que vocês pensem estar estudando budismo enquanto lêem, talvez estejam tendo uma compreensão intelectual em vez de uma experiência direta (…)

(…) A experiencia direta virá quando estiverem inteiramente em unidade com sua atividade, quando não tiverem idéia alguma do eu. Isso pode acontecer quando estiverem sentados, mas também pode acontecer sempre que a mente que procura o caminho for suficientemente forte para esquecer seus desejos individualistas. Quando você acredita que tem algum problema, isso significa que sua prática não é suficientemente boa. Quando sua prática é boa o bastante, o que quer que você veja, o que quer que você faça, é a experiência direta da realidade. Essa questão deve ser sempre lembrada. Geralmente, sem ter esse conhecimento, somos tomados por julgamentos e dizemos: “Isso é certo, aquilo é errado”, “Isso é perfeito” e “Aquilo não é perfeito”. Isso parece ridículo quando estamos fazendo a prática real (…)

(…) Quando um habilidoso artista marcial maneja sua espada, ele deve ser capaz de cortar um mosquito pousado no nariz de seu amigo, sem cortar o nariz dele. Sentir o temos de cortar o nariz não é a prática verdadeira. Quando for fazer alguma coisa, tenha a firme determinação de fazê-la. UÓSH. Sem idéia alguma de habilidade ou não, perigo ou não, você apenas segue adiante. Quando se faz algo com esse tipo de convicção, essa é a prática verdadeira. Essa é a iluminação verdadeira”. 

(…) Essa é a característica do zen e a característica do budismo verdadeiro. Em vez de criarmos um sistema de budismo, enfatizamos a prática verdadeira. Todos as regras que temos são apenas para tornar a prática mais fácil. (…) Assim, não é preciso sempre se ater às regras. O importante é expandir e aprofundar seu modo de vida cada vez mais. Não é necessário ter uma bela vasilha de cerâmica quando se está pronto para apreciar as coisas. Seja o que for, as coisas irão estimular sua prática. 

Se conseguirem apreciar suas vidas no sentido verdadeiro, então, mesmo que machuquem o corpo, tudo estará bem. Mesmo que morram, tudo estará bem (…)”

Excerto do capítulo “Experiência direta da realidade”, do livro “Nem sempre é assim”, de S. Suzuki, lido no zazen de 08/09.