Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (80) – Livro 5 Parte 4

“(…) A essência do confucionismo é parar de fazer o mal e encorajar o bem usando palavras hábeis. Os monges também devem ter esse tipo de habilidade ao ensinar outros.”

LIVRO 5

5-4

Dogen instruiu,

Existiu um rei que, depois de ter estabelecido seu governo, questionou seus ministros: “Governei bem este país. Sou um rei sábio?”

Seus ministros disseram: “Vossa Majestade, o senhor governou muito bem. É muito sábio.”

Um dos ministros, no entanto, disse: “Você não é sábio”.

O rei perguntou: “Por que não?”

O ministro respondeu: “Depois de estabelecer seu governo, você o entregou ao seu filho, ao invés de entregá-lo ao seu irmão mais novo”.

O rei ficou ofendido e expulsou o ministro.

Mais tarde, o rei perguntou a outro ministro: “Sou um rei benevolente?”

O ministro respondeu: “Sim, você é muito benevolente”.

O rei perguntou: “Por quê?”

O ministro respondeu: “Todos os governantes benevolentes têm ministros leais, e ministros leais oferecem observações francas. A opinião desse ministro foi muito direta. Ele foi um ministro leal. Se você não fosse um rei benevolente, você não teria tido um tal ministro”. O rei ficou impressionado com isso e chamou o ministro de volta.

Dogen também disse:

Durante o tempo do Shikotei (o primeiro imperador) de Shin[1], o príncipe herdeiro queria ampliar seu jardim de flores.

Um ministro disse: “Maravilhoso! Se você ampliar o jardim de flores e muitos pássaros e animais se reunirem lá, poderemos defender nosso país contra as tropas do país vizinho com os pássaros e animais.” Por causa desta observação, o príncipe desistiu do projeto.

Em outra época, o príncipe queria construir um palácio com pilares laqueados. Um ministro disse: “Isso realmente deveria ser feito. Se você laquear os pilares, o inimigo não nos invadirá.”

Então, isso também foi interrompido.

A essência do confucionismo é parar de fazer o mal e encorajar o bem usando palavras hábeis. Os monges também devem ter esse tipo de habilidade ao ensinar outros.


[1] Shikotei (?–210 a.C.) foi o primeiro imperador da dinastia Shin e tornou-se famoso por construir a Grande Muralha da China.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (79) – Livro 5 Parte 3

“(…) Portanto, estudantes, se você deseja alcançar o Caminho dos budas e ancestrais, você deveria se dedicar ao Caminho dos budas e ancestrais.”

LIVRO 5

5-3

Certo dia Dogen ensinou:

Um leigo disse, “Um tesouro é um inimigo que prejudica a vida de uma pessoa. Isso aconteceu no passado e acontece no presente também.”

Esta frase faz referência à pessoa na seguinte história: era uma vez um homem que tinha uma bela esposa. Um homem poderoso ordenou que ele lhe desse a esposa. O marido relutou em desistir de sua esposa. Finalmente, o homem poderoso cercou a casa com suas tropas. Quando a esposa estava prestes a ser levada, seu marido disse, “Eu darei minha vida por você”.

A esposa respondeu, “Eu também darei minha vida por você.”

Dizendo isso, ela pulou de uma construção alta e se matou. Mais tarde, o marido, que não conseguiu morrer, contou a história.

Há outra história: era uma vez um sábio que era governador de uma província. Ele tinha um filho que teve que se ausentar para tratar de assuntos oficiais. Quando chamou seu pai para se despedir, este lhe deu um rolo de seda fina.

O filho disse, “Você é um homem de grande integridade. Onde você conseguiu essa seda?”

O pai respondeu, “Sobrou do meu salário”.

O filho saiu, deu a seda ao imperador e contou-lhe o que seu pai havia dito. O imperador admirava a sabedoria do pai.

O filho disse, “Meu pai ocultou seu nome. Eu revelei o nome dele. A sabedoria do meu pai é verdadeiramente superior à minha.”

A história significa que, mesmo um rolo de seda seja algo trivial, uma pessoa sábia não o toma para seu uso particular. Também mostra que uma pessoa verdadeiramente sábia esconde seu nome. Como era o seu salário, ele disse que o usaria[1].

Se até um leigo era assim, mais ainda um monge deveria aprender o caminho para não manter preferências pessoais. Além disso, se ele quiser seguir o verdadeiro Caminho, deve ocultar seu nome.

Dogen também disse; “Era uma vez um sennin[2] .

Um homem lhe perguntou, “Como você se torna um sennin?”

O sennin respondeu, “Se você quer se tornar um sennin, você deve se dedicar ao caminho do sennin”.

Portanto, estudantes, se você deseja alcançar o Caminho dos budas e ancestrais, você deveria se dedicar ao Caminho dos budas e ancestrais.


[1] Parte dessa história parece ter sido perdida ou omitida quando foi transcrita, embora o ponto principal seja que uma pessoa verdadeiramente grande ou sábia esconde sua sabedoria.

[2] Mago lendário que vive nas montanhas e é capaz de realizar milagres. Um eremita. Literalmente, significa uma pessoa que vive nas montanhas. Esta história refere-se às pessoas que praticavam o Taoísmo e deixaram a sociedade. Diz-se que elas alcançaram os poderes sobrenaturais dos magos e ganharam a imortalidade.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (78) – Livro 5 Parte 2

“(…) Nunca espere obter qualquer recompensa por praticar o Caminho de Buda. Uma vez que você tenha se movido na direção do Caminho de Buda, nunca olhe para trás para si mesmo. Continue praticando de acordo com as regras do buda-darma, e não se apegue a visões pessoais.”

LIVRO 5

5-2

Dogen ensinou:

Estudantes do Caminho, não aprendam o buda-darma pelo bem de seus próprios egos. Aprenda o buda-darma apenas pelo bem do buda-darma. A forma mais efetiva de realizar isso é abandonando completamente seu corpo e mente não deixando nada, e dedicando-se ao grande oceano do buda-darma.

Então, sem se preocupar com certo e errado, sem se apegar às suas próprias visões, mesmo que seja difícil fazer ou sustentar isso, você deve fazê-lo forçado pelo buda-darma. Mesmo que você queira muito fazer algo, você deveria deixar isso de lado caso não esteja de acordo com o buda-darma. Nunca espere obter qualquer recompensa por praticar o Caminho de Buda. Uma vez que você tenha se movido na direção do Caminho de Buda, nunca olhe para trás para si mesmo. Continue praticando de acordo com as regras do buda-darma, e não se apegue a visões pessoais.

Todos os exemplos de praticantes do passado foram assim. Quando você não mais busca por nada tendo por base sua mente (discriminatória), você estará em grande paz e alegria (Nirvana).

Entre leigos também, aqueles que nunca conviveram com outros e cresceram apenas dentro de suas próprias famílias, se comportam como querem e priorizam o cumprimento de seus próprios desejos. Eles nunca pensam sobre a visão dos outros e não se preocupam em como os outros se sentem. Tais pessoas sempre são más. Você deve tomar cuidado com essa mesma coisa ao praticar o Caminho. Conviva com outros (na sanga) e siga seu professor sem se apegar a visões pessoais. Se você continuar reformando sua mente (desta maneira) você facilmente se tornara uma pessoa do Caminho.

Ao praticar o Caminho, antes de tudo, você deve aprender a pobreza. Abra mão da fama e abandone o lucro, não bajule e renuncie a todos os negócios; então você se tornará um bom praticante do Caminho, sem falha. Na Grande China Song, aqueles que eram conhecidos como monges eminentes eram todos pobres. Seus mantos eram esfarrapados, e eles tinham poucas provisões.

Quando eu estive no Monastério Tendo, quem fazia os registros[1] era um monge antigo chamado Donyo, filho do primeiro ministro. Mas, uma vez que ele tinha deixado completamente sua família, e não mais desejava lucro mundano, seus mantos eram tão esfarrapados que era difícil olhar para ele. Sua virtude do Caminho, entretanto, era conhecida por outros e ele se tornou o responsável pelos registros naquele grande templo.

Certa vez eu perguntei, “Monge Donyo, você é filho de um alto oficial do governo e membro de uma família rica e nobre.  Porque as coisas que você usa são tão velhas? Porque você vive em tamanha pobreza?”

Monge Donyo respondeu, “Porque eu me tornei um monge.”


[1] Tradução de shoki, o oficial encarregado de fazer os documentos públicos, cartas, etc, no monastério Zen.