
“(…) não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar”.
LIVRO 4
4-2
Dogen também disse:
O Notório Professor Echu de Nanyo[1] perguntou ao monge assistente imperial[2] Rin, “De onde você veio?”
O monge assistente respondeu, “Eu vim do sul da cidade.”
O Mestre disse, “Qual a cor da grama lá?”
O monge assistente respondeu, “É amarela.”
O Mestre inquiriu um jovem rapaz que servia como seu atendente pessoal, “Qual a cor da grama no sul da cidade?”.
O rapaz respondeu, “É amarela.”
O Mestre disse, “Mesmo este jovem rapaz pode receber o manto roxo e falar sobre a profunda verdade ao imperador na corte.”
Com isso, ele quis dizer aqui que o rapaz poderia ser professor do imperador, uma vez que ele disse a verdadeira cor [da grama]. A visão do monge atendente não foi além do senso comum.
Mais tarde alguém disse, “O que há de errado com o monge assistente que fez com que ele não ultrapassasse o senso comum? Ele também falou da cor verdadeira. Este é o verdadeiro professor.”
Ao dizer isso, esta pessoa não aceitou a opinião do Notório Professor.
Disso, compreendemos que não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar.
[1] Nanyo Echu (?–775) discípulo do Sexto Ancestral.
[2] Na China houve alguns monges assistentes que serviram no butsuden (Sala de Buda) no palácio imperial.
