Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (64) – Livro 4 Parte 2

“(…) não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar”.

LIVRO 4

4-2

Dogen também disse:

O Notório Professor Echu de Nanyo[1] perguntou ao monge assistente imperial[2] Rin, “De onde você veio?”

O monge assistente respondeu, “Eu vim do sul da cidade.”

O Mestre disse, “Qual a cor da grama lá?”

O monge assistente respondeu, “É amarela.”

O Mestre inquiriu um jovem rapaz que servia como seu atendente pessoal, “Qual a cor da grama no sul da cidade?”.

O rapaz respondeu, “É amarela.”

O Mestre disse, “Mesmo este jovem rapaz pode receber o manto roxo e falar sobre a profunda verdade ao imperador na corte.”

Com isso, ele quis dizer aqui que o rapaz poderia ser professor do imperador, uma vez que ele disse a verdadeira cor [da grama]. A visão do monge atendente não foi além do senso comum.

Mais tarde alguém disse, “O que há de errado com o monge assistente que fez com que ele não ultrapassasse o senso comum? Ele também falou da cor verdadeira. Este é o verdadeiro professor.”

Ao dizer isso, esta pessoa não aceitou a opinião do Notório Professor.

Disso, compreendemos que não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar.


[1] Nanyo Echu (?–775) discípulo do Sexto Ancestral.

[2] Na China houve alguns monges assistentes que serviram no butsuden (Sala de Buda) no palácio imperial.