Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (65) – Livro 4 Parte 3

“(…) Mesmo que você pense que compreendeu os ensinamentos temporários e os verdadeiros ensinamentos ou as autenticas escrituras (…), se você não se desapegou da mente que está agarrada ao seu corpo, é como inutilmente contar a riqueza alheia sem possuir sequer meio centavo seu. Eu imploro que você sente silenciosamente e busque o início e o fim deste corpo no terreno da realidade (…). “

LIVRO 4

4-3

Dogen também instruiu,

O ponto principal que você deve observar é o desapegar-se de pontos de vista pessoais. Desapegar-se de pontos de vista pessoais significa não se apegar ao seu corpo. Mesmo que você tenha estudado minuciosamente as palavras e histórias dos antigos mestres, e tenha praticado zazen de forma contínua e tão imóvel quanto ferro ou pedra, se você se apegar ao seu corpo e não se desapegar dele, você será incapaz de alcançar o Caminho dos Budas e ancestrais, nem em dez mil éons ou em mil vidas.

Mesmo que você pense que compreendeu os ensinamentos temporários e os verdadeiros ensinamentos ou as autenticas escrituras Exotéricas e Esotéricas, se você não se desapegou da mente que está agarrada ao seu corpo, é como inutilmente contar a riqueza alheia sem possuir sequer meio centavo seu. Eu imploro que você sente silenciosamente e busque o início e o fim deste corpo no terreno da realidade. Seu corpo, cabelo e pele são originalmente compostos de duas gotas de seu pai e mãe. Uma vez que a respiração cessa, eles se dispersam e, por fim, se transformam em lama e terra nas montanhas e campos. Como você pode se apegar a seu corpo? Além disso, olhando para o seu corpo tendo por base o darma, entre a reunião e a dispersão dos dezoito elementos[1], quais você identifica como sendo seu corpo? Há diferenças entre as escolas de ensino e aquelas que não são escolas de ensino (Zen)[2]. Entretanto, ambas mostram a impossibilidade de se prender ao corpo, do começo ao fim, e asseveram que a ausência de ego é o ponto essencial na prática do Caminho. Se você, primeiramente, perceber esta realidade, o verdadeiro Caminho de Buda se manifestará com clareza.


[1] Os seis órgãos dos sentidos são os olhos, ouvidos, nariz, língua, o corpo tátil e a mente, enquanto os seis objetos dos órgãos dos sentidos são cor e forma, som, odor, sabor, objetos tangíveis, objetos da mente. As seis consciências correspondem aos seis órgãos dos sentidos e seus objetos, consciência visual, consciência auditiva, consciência olfativa, consciência gustativa, consciência tátil e consciência não sensorial.

[2] Referência às escolas baseadas em ensinamentos escritos, como as Escolas Kegon, Tendai, Sanron, etc., e a Escola Zen, que insiste que a mente de Buda deve ser mostrada diretamente sem o uso de ensinamentos verbais.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (64) – Livro 4 Parte 2

“(…) não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar”.

LIVRO 4

4-2

Dogen também disse:

O Notório Professor Echu de Nanyo[1] perguntou ao monge assistente imperial[2] Rin, “De onde você veio?”

O monge assistente respondeu, “Eu vim do sul da cidade.”

O Mestre disse, “Qual a cor da grama lá?”

O monge assistente respondeu, “É amarela.”

O Mestre inquiriu um jovem rapaz que servia como seu atendente pessoal, “Qual a cor da grama no sul da cidade?”.

O rapaz respondeu, “É amarela.”

O Mestre disse, “Mesmo este jovem rapaz pode receber o manto roxo e falar sobre a profunda verdade ao imperador na corte.”

Com isso, ele quis dizer aqui que o rapaz poderia ser professor do imperador, uma vez que ele disse a verdadeira cor [da grama]. A visão do monge atendente não foi além do senso comum.

Mais tarde alguém disse, “O que há de errado com o monge assistente que fez com que ele não ultrapassasse o senso comum? Ele também falou da cor verdadeira. Este é o verdadeiro professor.”

Ao dizer isso, esta pessoa não aceitou a opinião do Notório Professor.

Disso, compreendemos que não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar.


[1] Nanyo Echu (?–775) discípulo do Sexto Ancestral.

[2] Na China houve alguns monges assistentes que serviram no butsuden (Sala de Buda) no palácio imperial.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (63) – Livro 4 Parte 1

“Estudantes do Caminho, vocês não devem se apegar a seus próprios pontos de vista”.

LIVRO 4

4-1

Certo dia, em um discurso, Dogen instruiu,

Estudantes do Caminho, vocês não devem se apegar a seus próprios pontos de vista. Mesmo que tenham algum entendimento, devem praticar a autorreflexão; deve haver algo faltando em seu entendimento e deve haver um entendimento mais profundo para vocês. Visitem vários professores em vários lugares e investiguem as palavras de seus antecessores. Ainda assim, não se apeguem demasiadamente, mesmo às palavras daqueles dos tempos antigos. Contudo, considerando que seus pontos de vista possam estar errados, mesmo que acreditem que eles são verdadeiros, se houver algo superior, vocês devem segui-lo.