Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (66) – Livro 4 Parte 4

“(…) Associar-se a uma boa pessoa é como caminhar em meio a névoa e ao orvalho; embora você não fique encharcado, gradualmente suas vestes ficarão úmidas (…).Do mesmo modo, se você praticar zazen por um longo tempo, você irá subitamente clarificar a Grande Questão e reconhecerá que o zazen é o verdadeiro portal (para o buda-darma) “

LIVRO 4

4-4

Certo dia Dogen instruiu,

Um ancião disse, “Associar-se a uma boa pessoa é como caminhar em meio a névoa e ao orvalho; embora você não fique encharcado, gradualmente suas vestes ficarão úmidas.”[1] Isso significa que, se você se familiarizar com uma boa pessoa, você mesmo se tornará bom sem perceber.

Em tempos antigos, um jovem que servia Mater Gutei (Judi)[2], sem perceber quando ele estava aprendendo ou quando ele estava praticando, realizou o Caminho porque serviu como assistente pessoal do mestre que praticava havia muito tempo.

Do mesmo modo, se você praticar zazen por um longo tempo, você irá subitamente clarificar a Grande Questão e reconhecerá que o zazen é o verdadeiro portal (para o buda-darma).


[1] Citação do Isankyosaku, escrito por Isan Reiyu (771-853).

[2] Sempre que faziam perguntas a Gutei, ele não fazia nada além de levantar um dedo. Um dia, alguém perguntou ao seu atendente qual era o ensinamento do mestre e o jovem, imitando a ação de seu mestre, levantou um dedo. Quando Gutei ouviu isso, ele cortou o dedo do jovem, que fugiu chorando. Gutei chamou o jovem pelo nome e, quando ele se virou para responder, Gutei levantou o dedo. O jovem subitamente se iluminou.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (65) – Livro 4 Parte 3

“(…) Mesmo que você pense que compreendeu os ensinamentos temporários e os verdadeiros ensinamentos ou as autenticas escrituras (…), se você não se desapegou da mente que está agarrada ao seu corpo, é como inutilmente contar a riqueza alheia sem possuir sequer meio centavo seu. Eu imploro que você sente silenciosamente e busque o início e o fim deste corpo no terreno da realidade (…). “

LIVRO 4

4-3

Dogen também instruiu,

O ponto principal que você deve observar é o desapegar-se de pontos de vista pessoais. Desapegar-se de pontos de vista pessoais significa não se apegar ao seu corpo. Mesmo que você tenha estudado minuciosamente as palavras e histórias dos antigos mestres, e tenha praticado zazen de forma contínua e tão imóvel quanto ferro ou pedra, se você se apegar ao seu corpo e não se desapegar dele, você será incapaz de alcançar o Caminho dos Budas e ancestrais, nem em dez mil éons ou em mil vidas.

Mesmo que você pense que compreendeu os ensinamentos temporários e os verdadeiros ensinamentos ou as autenticas escrituras Exotéricas e Esotéricas, se você não se desapegou da mente que está agarrada ao seu corpo, é como inutilmente contar a riqueza alheia sem possuir sequer meio centavo seu. Eu imploro que você sente silenciosamente e busque o início e o fim deste corpo no terreno da realidade. Seu corpo, cabelo e pele são originalmente compostos de duas gotas de seu pai e mãe. Uma vez que a respiração cessa, eles se dispersam e, por fim, se transformam em lama e terra nas montanhas e campos. Como você pode se apegar a seu corpo? Além disso, olhando para o seu corpo tendo por base o darma, entre a reunião e a dispersão dos dezoito elementos[1], quais você identifica como sendo seu corpo? Há diferenças entre as escolas de ensino e aquelas que não são escolas de ensino (Zen)[2]. Entretanto, ambas mostram a impossibilidade de se prender ao corpo, do começo ao fim, e asseveram que a ausência de ego é o ponto essencial na prática do Caminho. Se você, primeiramente, perceber esta realidade, o verdadeiro Caminho de Buda se manifestará com clareza.


[1] Os seis órgãos dos sentidos são os olhos, ouvidos, nariz, língua, o corpo tátil e a mente, enquanto os seis objetos dos órgãos dos sentidos são cor e forma, som, odor, sabor, objetos tangíveis, objetos da mente. As seis consciências correspondem aos seis órgãos dos sentidos e seus objetos, consciência visual, consciência auditiva, consciência olfativa, consciência gustativa, consciência tátil e consciência não sensorial.

[2] Referência às escolas baseadas em ensinamentos escritos, como as Escolas Kegon, Tendai, Sanron, etc., e a Escola Zen, que insiste que a mente de Buda deve ser mostrada diretamente sem o uso de ensinamentos verbais.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (64) – Livro 4 Parte 2

“(…) não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar”.

LIVRO 4

4-2

Dogen também disse:

O Notório Professor Echu de Nanyo[1] perguntou ao monge assistente imperial[2] Rin, “De onde você veio?”

O monge assistente respondeu, “Eu vim do sul da cidade.”

O Mestre disse, “Qual a cor da grama lá?”

O monge assistente respondeu, “É amarela.”

O Mestre inquiriu um jovem rapaz que servia como seu atendente pessoal, “Qual a cor da grama no sul da cidade?”.

O rapaz respondeu, “É amarela.”

O Mestre disse, “Mesmo este jovem rapaz pode receber o manto roxo e falar sobre a profunda verdade ao imperador na corte.”

Com isso, ele quis dizer aqui que o rapaz poderia ser professor do imperador, uma vez que ele disse a verdadeira cor [da grama]. A visão do monge atendente não foi além do senso comum.

Mais tarde alguém disse, “O que há de errado com o monge assistente que fez com que ele não ultrapassasse o senso comum? Ele também falou da cor verdadeira. Este é o verdadeiro professor.”

Ao dizer isso, esta pessoa não aceitou a opinião do Notório Professor.

Disso, compreendemos que não deveríamos necessariamente confiar nas palavras dos ancestrais, mas deveríamos apreender apenas a verdadeira realidade. Embora ter dúvidas não seja bom, também não é bom nos apegarmos àquilo que não deveríamos dar por certo, nem nos abstermos de questionar o que deveríamos questionar.


[1] Nanyo Echu (?–775) discípulo do Sexto Ancestral.

[2] Na China houve alguns monges assistentes que serviram no butsuden (Sala de Buda) no palácio imperial.