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O trabalho árduo do descondicionamento
Por Monge Kômyô
“(…) A experiência zen, em geral se manifesta para dar uma rasteira na gente. Por que isso? É alguma perversidade? Não. O objetivo no Zen é tentar desestabilizar a falsa idéia que o nosso eu tem de que está no controle e que tudo tem que se adaptar às nossas expectativas. O trabalho contemplativo é um trabalho árduo de descondicionamento. Portanto, num retiro, o primeiro convite que eu faço a todos é: simplesmente observem a si mesmos. Diante dos desafios, das situações, do próprio movimento durante o sentar e fazer zazen, observem a si mesmos. Não tentem controlar, até porque vocês não vão conseguir. Observem. Esse é o primeiro passo. O primeiro passo é reconhecer a si mesmo. O silêncio, a introspecção, ela ajuda a estabelecer esse meio, para que possamos reconhecer melhor quem nós somos. Sem culpa, sem recriminação, sem crítica, só reconhecer. Já aí temos um grande desafio (…)”.
Excerto retirado do blog “O pico da montanha é onde estão os meus pés”, de Monge Genshô.
Leia o texto completo em http://www.opicodamontanha.blogspot.com.br/2014/10/o-trabalho-arduo-do-descondicionamento.html
O budismo não é a religião do acreditar. É a religião de despertar
Por Monge Genshô
Pergunta – O budismo acredita que possa existir algum tipo de entidade, como essa do mal?
Monge Genshô – O budismo não é a religião do acreditar. É a religião de despertar. Você tem evidências da existência dessa entidade?
Pergunta – Sim, dessa não, mas tive experiências de contato com entidades.
Monge Genshô – Você teve, mas essa experiência é intransmissível, portanto, para os outros tanto faz, é irrelevante para o despertar. Se você não mostra evidências da existência ou não de entidades, isso não tem a menor importância. Mas mesmo que você prove que existem essas entidades, esse fato continua irrelevante para a prática budista.
O mesmo pode ser dito a respeito de deuses, eles existem ou não? Não existe nenhuma evidência, nenhuma forma de verificação. Se você acredita está bem e se não acredita também está tudo bem. Não faz diferença para o praticante do Zen. As vezes as pessoas estão cheias de sabedoria e vem à Sangha com suas convicções tentando convencer as outras pessoas. Isso mostra o quanto ela tem dúvidas de seus conhecimentos, o quanto lhes falta de certeza. Por que tenta convencer os outros? Para que mais pessoas pensem como você? Se você tem certeza e sua experiência for válida, não será preciso convencer ninguém de nada. A forma como as pessoas chegam à Sangha se assemelha a história do aluno que pede explicações para o mestre, mas não para de falar, então o mestre o convida para um chá e começa a encher sua xícara até transbordar. Ao ver que o mestre não vai parar o aluno diz, “Mestre, já está cheia, não cabe mais nada”. “Igual a sua mente, você sabe muito, não cabe mais conhecimento nela”. Não se pode colocar nada em uma mente cheia, é necessário se esvaziar primeiro. Você deve sentar para meditar e assumir sua ignorância, esse é o grande sábio.
O Zen é muito simples, rico, mas simples. Como na historia do mestre que caminhando com seu aluno lhe pergunta; “Ouves o riacho?”, “Sim.”, responde o aluno. “Então não tenho mais nada pra te ensinar”, diz o mestre. Quem faz retiro na Pousada Passarim sabe o que quanto é difícil escutar o riacho que passa ali perto.
Pergunta – Não sei se é a isso que o senhor se refere, mas as vezes na vida ficamos preocupados com verdades transcendentais e deixamos de lado o aqui e o agora, como na história de Budha em que há uma pessoa ferida com uma flecha e todos ficam se perguntando quem atirou a flecha, de onde veio, onde ele estava etc. e se esquecem de ajudar o ferido.
Monge Genshô – Sim, é verdade.
Pergunta – Ainda sobre a existência ou não de espíritos ou entidades. Há uma historia de Chico Xavier em que uma pessoa acusada de assassinato é absolvida porque Chico Xavier psicografou uma carta do assassinado dizendo que o réu não era culpado.
Monge Genshô – Sim, o que aconteceu foi que os jurados aceitaram uma carta escrita por Chico Xavier, onde o suposto assassinado dizia que aquela pessoa não era culpada pela sua morte. Mas você sabe se a carta era ou não verdadeira? O que sabemos é que os jurados, baseados em sua fé, aceitaram aquela carta e a consideraram uma evidência. É a evidência de que? Da fé dos jurados em Chico Xavier.
Retirado de “O Pico da Montanha é onde estão os meus pés”. http://nblo.gs/10u3A0


