Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (45) – Livro 2 Parte 23

“(…) Muitos monges hoje em dia dizem que eles deveriam seguir costumes mundanos. Não penso que isso seja certo. Mesmo no mundo secular, pessoas sábias dizem que é impuro seguir as maneiras do mundo.

LIVRO 2

2-23

Certo dia Dogen disse em suas instruções:

Muitos monges hoje em dia dizem que eles deveriam seguir costumes mundanos. Não penso que isso seja certo. Mesmo no mundo secular, pessoas sábias dizem que é impuro seguir as maneiras do mundo. Por exemplo, Kutsugen (Quyuan)[1] disse: “Todos no mundo estão bêbados, apenas eu estou sóbrio.” Ele se recusou a acompanhar os caminhos comuns das pessoas e finalmente se atirou do Rio Soro (Cangláng) e se afogou.

E ainda mais, o buda-darma vai totalmente contra as maneiras mundanas. Pessoas leigas comem em demasia, monges comem uma vez por dia. Tudo é o contrário. E, por fim, monges se tornam pessoas de grande paz e contentamento (Nirvana). Por esta razão o caminho dos monges é totalmente oposto ao caminho do mundo secular.


[1] Kutsugen (Quyuán, 343?-227?a.C.), político e poeta na China. Ele viveu no Período dos Estados Combatentes.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (44) – Livro 2 Parte 22

“(…) Apenas percebam que prática e estudo em si mesmos são o buda-darma. Sem buscar nada, abstenha-se de se envolver em assuntos mundanos ou coisas más mesmo que você tenha uma mente disposta a tal. Não pense sobre, nem odeie o tédio da prática do Caminho. Apenas pratique sinceramente. Pratique sem nem mesmo buscar a completude do Caminho ou a obtenção do resultado. Esta atitude está de acordo com o princípio do não-buscar.

LIVRO 2

2-22

Certa ocasião, alguém perguntou,

            “Como você se sente a respeito da seguinte perspectiva? E se, depois de ouvir que seu próprio eu é o buda-darma e que é fútil buscar qualquer coisa fora de si mesmo, um estudante acreditasse profundamente nisso, abrisse mão de praticar e estudar e passasse toda a sua vida fazendo o bem e o mal de acordo com sua natureza?

Dogen pensou e disse:

            “De acordo com essa perspectiva, as palavras e a realidade de uma pessoa são contraditórias. Abrir mão da prática e abandonar o estudo devido à futilidade de buscar alguma coisa fora de si, soa como algo que está sendo procurado através do ato de abrir mão. Isso não é não-buscar.

            Apenas percebam que prática e estudo em si mesmos são o buda-darma. Sem buscar nada, abstenha-se de se envolver em assuntos mundanos ou coisas más mesmo que você tenha uma mente disposta a tal. Não pense sobre, nem odeie o tédio da prática do Caminho. Apenas pratique sinceramente. Pratique sem nem mesmo buscar a completude do Caminho ou a obtenção do resultado. Esta atitude está de acordo com o princípio do não-buscar.

            Quando Nangaku (Nanyue)[1] polia uma telha para torná-la um espelho, ele estava repreendendo Baso por sua busca de se tornar um Buda. Ainda assim, ele não impediu que Baso sentasse em zazen. Sentar em si é a prática do buda. Sentar em si mesmo é não-fazer. Não é nada mais do que a forma verdadeira do Eu. Além de sentar, não há nada a procurar como sendo o buda-darma.”


[1] Quando Baso Doitsu (Mazu Daoyi, 701-788) estava sentado sozinho em um eremitério, seu professor Nangaku Ejo (Nanyue Huirang, 677-744) o visitou e perguntou: “O que você pretende se tornar sentando zazen? ” Baso disse: “Tenho a intenção de me tornar um Buda.” Nangaku então pegou um pedaço de telha e começou a polir em uma pedra na frente da cabana. Baso perguntou: “Mestre, o que você está fazendo?” Nangaku respondeu: “Estou polindo a telha para fazer dela um espelho”. Baso disse: “Como você pode fazer um espelho polindo uma telha?” Nangaku respondeu: “Como você pode se tornar um Buda praticando zazen?”

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (43) – Livro 2 Parte 21

“(…) os monges não deveriam fazer alarde sobre encontrar refeições agradáveis, ao invés disso, deveriam comer o que estivesse disponível. Quando fosse uma boa comida, deveriam come-la tal como ela é, e se fosse pobre, deveriam come-la sem aversão.

LIVRO 2

2-21

Em uma tarde, Dogen instruiu:

            Em um monastério Zen na China, algumas vezes eles peneiram o trigo e o arroz, etc, jogando fora os grãos ruins e mantendo os bons para serem cozidos. Um certo mestre Zen advertiu em um verso: “Mesmo que vocês dividam minha cabeça em sete pedaços, não peneirem o arroz.”  O que ele quis dizer era que os monges não deveriam fazer alarde sobre encontrar refeições agradáveis, ao invés disso, deveriam comer o que estivesse disponível. Quando fosse uma boa comida, deveriam come-la tal como ela é, e se fosse pobre, deveriam come-la sem aversão. Livre-se de sua fome e sustente sua vida com as leais doações dos benfeitores ou apenas com a comida pura pertencente ao templo e devote sua vida à prática do Caminho. Não escolha entre bom ou mau com base em seu paladar. Agora cada um de vocês em minha assembleia deveria ter tal atitude.