Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (32) – Livro 2 Parte 10

Ser respeitado é fácil. Fingir sem muito entusiasmo ter abandonado seu corpo e se separado do mundo é apenas uma questão de aparência exterior. Tal não é uma atitude sincera. Aquele que parece ser uma pessoa comum do mundo e segue harmonizando sua mente interior é uma pessoa de verdadeira mente bodai.

LIVRO 2

2-10

Em uma palestra vespertina, Dogen disse:

            Não espere ser respeitado pelos outros, a menos que você tenha verdadeira virtude interior. Uma vez que as pessoas neste país são ignorantes a respeito de tal virtude e enaltecem os outros altamente baseadas apenas em suas aparências externas, estudantes sem a mente bodai são facilmente arrastados para os caminhos maléficos (os seis reinos do samsara), e se tornam parentes dos demônios. Ser respeitado é fácil. Fingir sem muito entusiasmo ter abandonado seu corpo e se separado do mundo é apenas uma questão de aparência exterior. Tal não é uma atitude sincera. Aquele que parece ser uma pessoa comum do mundo e segue harmonizando sua mente interior é uma pessoa de verdadeira mente bodai.

            Portanto, um Ancestral diz: “Vazio no interior, guiado pelo exterior”. Isso significa estar sem uma mente egocentrada por dentro e se dar bem com os outros por fora. Se você esquecer completamente seu próprio corpo e mente, entrar no darma de buda, e mantiver a prática de acordo com as leis do darma de buda, você será bom tanto por dentro quanto por fora, no presente e no futuro.

            Mesmo que você tenha entrado no darma de buda e tenha abandonado a si mesmo e ao mundo, é errado abandonar impensadamente aquilo que não deveria ser abandonado. Neste país, entre aqueles que são famosos como homens do darma de buda ou de mente bodai, há alguns que não consideram como os outros os veem e se comportam mal sem qualquer razão, afirmando terem abandonado a si mesmos. Ou eles fazem coisas tal como se encharcarem enquanto caminham na chuva, pensando que se libertaram do apego ao mundo. Eles são completamente inúteis tanto interior quanto exteriormente. Mesmo assim, as pessoas no mundo geralmente os consideram respeitáveis e livres de apegos ao mundo comum.

            Neste meio, se alguém mantém os preceitos do Buda, cumpre os regulamentos, pratica por si mesmo e instrui outros a seguir os ensinamentos de Buda, haverá pessoas julgando que ele se apega a fama e lucro, então o ignoram. Ainda assim, para nós esta é a maneira de seguir os ensinamentos de Buda e cultivar virtude interior e exterior.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (31) – Livro 2 Parte 9

Aprender sobre os feitos dos mestres antigos ao ler relatos escritos ou koans de modo a explicá-los a pessoas deludidas é, em última instância, sem utilidade para minha própria prática e para ensinar aos outros. Mesmo que eu não saiba uma única letra, serei capaz de demonstrar aos outros de inesgotáveis maneiras se eu me devotar somente a sentar e clarificar a grande questão.”

LIVRO 2

2-9

Um dia Dogen instruiu:

            Certa vez, enquanto eu estava na China, li uma coleção de provérbios de um mestre antigo. Naquela época, um monge de Shisen (Sichuan), sincero praticante do Caminho, me perguntou: “Qual a utilidade de ler relatos escritos?”

            Eu respondi: “Quero aprender sobre os feitos dos mestres antigos.”

            O monge perguntou: “Qual é a utilidade disso?”

            Eu disse: “Desejo ensinar as pessoas quando eu retornar para casa.”

            O monge perguntou: “Qual a utilidade disso?”

            Eu respondi: “É para o benefício dos seres vivos.”

            O monge persistiu na indagação: “Sim, mas, em última análise, qual é a utilidade?”

Mais tarde, ponderei sobre suas observações. Aprender sobre os feitos dos mestres antigos ao ler relatos escritos ou koans[1]de modo a explicá-los a pessoas deludidas é, em última instância, sem utilidade para minha própria prática e para ensinar aos outros. Mesmo que eu não saiba uma única letra, serei capaz de demonstrar aos outros de inesgotáveis maneiras se eu me devotar somente a sentar e clarificar a grande questão[2]. Foi por esta razão que o monge me pressionou a respeito da finalidade máxima [de ler e estudar].  Percebi que o que ele dizia era verdadeiro. A partir de então, desisti de ler os relatos escritos e outros textos, concentrado com total sinceridade em me sentar, e fui capaz de clarificar a grande questão.


[1] No Zen Chinês, os feitos e ditos de mestres Zen foram escritos e reconhecidos como koans, que literalmente significa um decreto governamental, ou uma lei que deveria ser estudada e seguida.

[2] A coisa mais importante a ser feita na vida: libertação da transmigração e conhecimento do Caminho.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (30) – Livro 2 Parte 8

Nos dias de hoje, monges Zen apreciam ler literatura, compor poesia e escrever discursos do darma. Isso está errado. Bote no papel o que estiver em sua mente, mesmo que você não consiga compor poesia. Escreva os ensinamentos do portal do darma, mesmo que seu estilo não seja refinado.”

LIVRO 2

2-8

Dogen também disse:

Pessoas que estudam o Caminho não deveriam ler as escrituras das escolas-de-treinamento, nem estudar textos não-Budistas. Se você pretende estudar, leia as coletâneas de ditados [dos mestres Zen antigos]. Por enquanto, deixe de lado todos os outros livros. Nos dias de hoje, monges Zen apreciam ler literatura, compor poesia e escrever discursos do darma. Isso está errado. Bote no papel o que estiver em sua mente, mesmo que você não consiga compor poesia. Escreva os ensinamentos do portal do darma, mesmo que seu estilo não seja refinado. Pessoas sem a mente bodai não lerão algo que não seja refinado. Tais pessoas apenas brincariam com palavras, sem alcançar a realidade [por trás delas], mesmo que o estilo fosse embelezado e contivesse excelentes frases.

            Desde a infância, sempre gostei de estudar literatura, e ainda hoje tenho uma tendência a contemplar a beleza nas palavras dos textos não-budistas. Algumas vezes até me refiro a Monzen ou a outros textos; mesmo assim, considero-o sem propósito e deveria ser completamente abandonado.