Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (50) – Livro 3 Parte 2

A pratica de ser liberado do samsara e alcançar o Caminho parece ser procurada por todos, mas são poucos aqueles que a realizam. Vida-Morte é a Grande Questão; as coisas mudam rapidamente. Não deixe sua mente enfraquecer.

LIVRO 3

3-2

Certa vez, uma monja perguntou:

“Até mesmo mulheres leigas praticam e estudam o buda-darma. Quanto a nós monjas, mesmo que tenhamos algumas falhas, sinto que não há razão para dizer que estamos indo contra o buda-darma. O que pensa sobre isso?”

Dogen admoestou:

“Esta não é uma visão correta. Mulheres leigas podem obter o Caminho como resultado de praticar o buda-darma tal como são. Entretanto, nenhum monge ou monja[1] o obtém a menos que ele ou ela tenha a mente daquele que deixou sua casa. Não porque o buda-darma faça discriminações entre uma pessoa e outra, mas, ao contrário, porque a pessoa não adentra o darma. Deve haver uma diferença na atitude de leigos e daqueles que deixaram suas casas. Um leigo que tenha a mente de um monge ou monja que tenha deixado sua casa será liberado do samsara. Um monge ou monja que tenha a mente de uma pessoa leiga incorre em uma dupla falta. Suas atitudes deveriam ser bem diferentes. Não que seja algo difícil de fazer, mas fazer isso completamente é difícil.

A pratica de ser liberado do samsara e alcançar o Caminho parece ser procurada por todos, mas são poucos aqueles que a realizam. Vida-Morte é a Grande Questão; as coisas mudam rapidamente[2]. Não deixe sua mente enfraquecer. Se você abandona o mundo, deveria abandoná-lo completamente. Não creio que os nomes provisoriamente usados para distinguir monges e monjas de leigos sejam tão importantes assim.


[1] Shukke (deixar a casa) em japonês, significa aquele que renunciou à vida doméstica para se tornar um monge ou monja.

[2] Essas frases aparecem originalmente no Rokuso-Dankyo, (O Sutra da Plataforma do Sexto Ancestral).

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (49) – Livro 3 Parte 1

“(…) Um ancião disse: “No topo de um mastro de trinta metros, como pode você avançar um passo adiante?

LIVRO 3

3-1

Dogen instruiu:

Estudantes do Caminho, abandonem[1] corpo e mente e entrem completamente no buda-darma. Um ancião disse: “No topo de um mastro de trinta metros, como pode você avançar um passo adiante?”[2]. Em tal situação, acreditamos que morreríamos se soltássemos o mastro, então nos agarramos firmemente a ele.

Dizer “avançar um passo adiante” significa o mesmo que decidir que a morte não seria algo ruim e, portanto, a pessoa abre mão da vida física. Devemos desistir de nos preocupar com tudo o que se refere à arte de viver e ao nosso próprio sustento. A menos que desistamos de nos preocupar com tais coisas, será impossível conquistar o Caminho, mesmo que pareça que estamos praticando sinceramente, como se estivéssemos tentando apagar um incêndio em nossas cabeças. Apenas abra mão do corpo e mente de uma maneira decisiva.


[1] Hoge em japonês significa deixar ir,  jogar fora, desistir, abandonar, entregar, etc. Alguém perguntou a Joshu: “Não tenho nada. Como é isso?” Joshu respondeu: “Jogue isso fora (hoge-jaku).”

[2] Veja 1-13, nota de rodapé 4.

Textos e Sutras

> Shobogenzo Zuimonki (48) – Livro 2 Parte 26

“(…) Se apenas pensarmos no buda-darma com nossas mentes nunca compreenderemos o Caminho, mesmo em mil anos ou miríades de éons. Quando abrirmos mão de nossas mentes e deixarmos de lado nossas visões e compreensões o Caminho será efetivado. (…) Portanto, quando deixarmos completamente de lado nossos pensamentos e visões e praticarmos shikantaza, nos tornaremos íntimos do Caminho. Por esta razão o Caminho é sem duvida obtido através do corpo. É por isso que eu os encorajo a praticar zazen com toda sinceridade

LIVRO 2

2-26

Dogen também disse,

O Caminho é alcançado através da mente ou do corpo? Nas escolas de treinamento é dito que uma vez que corpo e mente não estão separados, o Caminho é obtido através do corpo. Ainda assim, não fica claro que obtenhamos o Caminho pelo corpo, porque eles dizem “uma vez que” corpo e mente não são separados. No Zen o Caminho é obtido através de ambos, do corpo e da mente.

Se apenas pensarmos no buda-darma com nossas mentes nunca compreenderemos o Caminho, mesmo em mil anos ou miríades de éons. Quando abrirmos mão de nossas mentes e deixarmos de lado nossas visões e compreensões o Caminho será efetivado. Um sábio clarificou a Mente Verdadeira (Realidade) quando ele viu flores de pêssego e outro compreendeu o Caminho quando ouviu o som de uma telha batendo em um bambu[1]. Eles obtiveram o Caminho através de seus corpos. Portanto, quando deixarmos completamente de lado nossos pensamentos e visões e praticarmos shikantaza, nos tornaremos íntimos do Caminho. Por esta razão o Caminho é sem duvida obtido através do corpo. É por isso que eu os encorajo a praticar zazen com toda sinceridade.


[1] Referência a Reiun Shigon (Lingun Zhixian, ?-?) e Kyogen Shikan (Xiangyan Zhixian, ?-840), que eram discípulos do Mestre Zen Isan Reiyu (Guishan Lingyou, 771-853).